Gurgel Xavante é um dos nomes mais emblemáticos da indústria automotiva nacional, representando a engenhosidade e ousadia das montadoras brasileiras nas décadas de 1970 e 1980. Desenvolvido pela Gurgel Motores, empresa criada pelo engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, o modelo entrou para a história como um dos primeiros veículos off-road genuinamente nacionais. O Gurgel Xavante conquistou seu espaço não só pela robustez, mas também pela capacidade de adaptação às difíceis estradas do Brasil, tornando-se sinônimo de aventura e resistência.
A história do Gurgel Xavante começou em 1973, com o objetivo de oferecer ao mercado brasileiro uma opção de utilitário leve, durável, de manutenção simples e baixo custo operacional. Esse lançamento ocorreu em um contexto de valorização da indústria local e em meio ao milagre econômico brasileiro. A versatilidade do modelo garantiu rápida popularização, sendo utilizado tanto em ambientes urbanos como rurais, além de conquistar usuários de segmentos militares e agrícolas.
No mercado automotivo, o Gurgel Xavante chamou a atenção por seu projeto inovador. Seu chassi Tubular Gurgel (Plasteel), a carroceria em fibra de vidro e a mecânica baseada nos confiáveis motores Volkswagen refrigerados a ar, traziam vantagens diante dos concorrentes importados e dos escassos utilitários nacionais. Essas características tornaram o Xavante atraente não só pelo custo-benefício, mas também pela simplicidade de manutenção e facilidade de personalização.
Os principais atrativos do Gurgel Xavante ainda hoje despertam interesse de colecionadores e entusiastas do off-road clássico. O modelo, resistente, econômico e de visual marcante, é lembrado nas trilhas, praias e no cotidiano de cidades interioranas. Ao longo dos anos, diferentes versões foram lançadas, cada qual com suas características técnicas e particularidades, reforçando a importância histórica do Gurgel Xavante no cenário automotivo do Brasil.
Ficha técnica e versões
O Gurgel Xavante passou por várias versões durante seu ciclo de produção, compreendendo desde opções mais simples até modelos destinados ao uso militar e profissional. Confira abaixo uma tabela técnica detalhada com as principais especificações do modelo:
Modelo | Ano | Motor | Potência ([cv] | Torque | Câmbio | Consumo (km/l) | Tração | Peso (kg) | Comprimento (mm) |
---|---|---|---|---|---|---|---|---|---|
Gurgel Xavante X-10 | 1973-1975 | VW Boxer 1.6 (ar) | 60 cv | ~11 Nm | Manual 4 marchas | 9-11 | Traseira | 850 | 3.380 |
Gurgel Xavante X-12 TR | 1976-1986 | VW Boxer 1.6 (ar) | 65 cv | ~12 Nm | Manual 4 marchas | 9-11 | Traseira | 890 | 3.545 |
Gurgel Xavante X-12 4×4 | 1978-1983 | VW Boxer 1.6 (ar) | 65 cv | ~12 Nm | Manual 4 marchas | 8-10 | 4×4 | 930 | 3.545 |
Gurgel Xavante X-12 Lona | 1978-1987 | VW Boxer 1.6 (ar) | 65 cv | ~12 Nm | Manual 4 marchas | 9-11 | Traseira | 880 | 3.560 |
Gurgel Xavante X-12 SL | 1982-1986 | VW Boxer 1.6 (ar) | 65 cv | ~12 Nm | Manual 4 marchas | 9-11 | Traseira | 900 | 3.560 |
Gurgel Xavante X-12 Militar | 1980-1986 | VW Boxer 1.6 (ar) | 65 cv | ~12 Nm | Manual 4 marchas | 8-10 | 4×4 | 950 | 3.600 |
Gurgel Xavante X-12 Buggy | 1984-1986 | VW Boxer 1.6 (ar) | 65 cv | ~12 Nm | Manual 4 marchas | 9-11 | Traseira | 850 | 3.420 |
Estas versões diferenciavam-se pelo tipo de acabamento, resistência à água e lama, opções de capota (fibra ou lona), acessórios, tração simples ou 4×4 e adaptações para usos específicos, como o militar.
Observação: A potência e torque informados nas tabelas são valores aproximados, pois em muitos casos a Gurgel utilizava diferentes ajustes do motor Volkswagen a ar conforme demanda de uso e época de fabricação.
Explicação das versões do Gurgel Xavante
- Xavante X-10 – Primeira versão, lançada em 1973, baseada no chassi e mecânica VW, com carroceria de linhas retas e visual utilitário.
- Xavante X-12 TR – Modelo mais difundido, idêntico ao X-12, porém com acabamento ligeiramente mais simples. Indicado para uso rural ou urbano, em regiões com poucos recursos mecânicos.
- Xavante X-12 4×4 – Variante com sistema de tração nas quatro rodas, voltada sobretudo ao segmento militar, civil e fazendeiros que enfrentavam terrenos difíceis.
- Xavante X-12 Lona – Versão do X-12 com capota de lona removível, indicada para quem buscava uso recreativo ou facilidade na limpeza após situações de trilha.
- Xavante X-12 SL – Modelo topo de linha, com melhor acabamento interno, pintura diferenciada e elementos de conforto, como bancos e volante exclusivos.
- Xavante X-12 Militar – Projeto exclusivo para Forças Armadas e órgãos públicos, com reforço de suspensão e elementos de proteção.
- Xavante X-12 Buggy – Versão lúdica, baseada em praia, geralmente usada em regiões litorâneas. Mais leve, perfil baixo e ótima dirigibilidade.
Desempenho e consumo
Apesar do visual robusto e da proposta aventureira, o desempenho do Gurgel Xavante era relativamente modesto, condizente com a motorização Volkswagen a ar de 1.6 litro. A potência variava entre 60 e 65 cv, com torque na casa dos 11-12 Nm – para entender mais sobre essas medidas, consulte os links para [cv] e [Nm]. O peso reduzido em relação a utilitários tradicionais compensava a baixa potência, proporcionando melhor agilidade em trilhas e obstáculos.
A transmissão manual de quatro marchas era eficiente para o uso off-road, com bons escalonamentos para subidas e terrenos irregulares. Já a suspensão por barras de torção, tanto na dianteira quanto na traseira, oferecia robustez e conforto relativo, considerando-se o porte do carro e o foco utilitário.
O consumo do Gurgel Xavante situava-se entre 8 a 11 km/l (gasolina), patamar razoável para a época. O underdrive, um detalhe da caixa de tração, permitia lidar com situações mais exigentes sem sobrecarga do motor. A velocidade máxima, por sua vez, ficava entre 110 e 120 km/h, valor limitado pela proposta e aerodinâmica do carro – salientando que o Xavante nunca foi projetado para alto desempenho em asfalto.
Vantagens
- Baixo custo de manutenção
- Facilidade de encontrar peças (uso de componentes Volkswagen)
- Carroceria resistente à ferrugem (fibra de vidro)
- Boa capacidade off-road
- Facilidade de customização
Desvantagens
- Isolamento acústico ruim; ruídos excessivos
- Acabamento interno simples ou espartano
- Pouca segurança em colisões, devido à construção em fibra
- Desempenho limitado em estradas asfaltadas
– Direção pesada e pouco precisa, especialmente nos modelos mais antigos
Outras informações relevantes
Pesquisas rápidas no Google sobre o Gurgel Xavante mostram ampla comunidade de apaixonados pelo modelo. Sites como Fórum Gurgel, Mercado Livre e clubes de antigomobilismo frequentemente anunciam exemplares restaurados, bem como comercializam peças novas e usadas. Existem também fóruns especializados como o Gurgel Clube, que oferecem suporte técnico, dicas de restauração e encontros nacionais de proprietários.
A carroceria de fibra de vidro não só permitia menor peso, mas também facilidade de conserto em oficinas adaptadas. Sua fama de “inquebrável” também se deve ao Plasteel – peculiar solução inventada por Gurgel, misturando aço e plástico reforçado.
Entre as curiosidades, destaca-se o fato de muitos exemplares do Gurgel Xavante ainda rodarem em regiões rurais, mesmo após décadas de uso intenso. Alguns foram adaptados para receber motores mais modernos, ou utilizar bancos de modelos mais recentes, sem perder a originalidade característica do Xavante.
Valor de mercado: dependendo do estado de conservação, ano e modelo, um Gurgel Xavante pode variar entre R$ 15 mil e R$ 50 mil (2024), sendo o X-12 SL e o 4×4 os mais valorizados.
Glossário Automotivo
– Trânsito: Movimento de veículos e pessoas nas vias.
– Plasteel: Mistura de aço e plástico especial, desenvolvida por Gurgel, aliando leveza e resistência.
– CV: Cavalo-vapor, unidade de potência.
– Nm: Newton-metro, unidade de torque.
– Câmbio manual: Sistema de transmissão cuja troca de marchas é feita manualmente pelo motorista.
– Off-road: Termo para designar veículos ou caminhos fora de estrada.
– Fibra de vidro: Material leve e resistente, usado na fabricação de carrocerias automotivas.
– Chassi: Estrutura base de sustentação do veículo, sobre o qual são montados os componentes.
– Underdrive: Redução extra na caixa de transmissão para aumentar força em baixas velocidades.
– Suspensão por barras de torção: Sistema de suspensão sem molas convencionais.
– Capota lona/fibra: Cobertura flexível/removível ou fixa e rígida em fibra de vidro que protege o habitáculo.
– Topo de linha: Versão mais completa de determinado modelo.
– Personalização: Modificações estéticas ou técnicas realizadas pelo proprietário conforme seu gosto.
Conclusão
O Gurgel Xavante representa um marco inconfundível do design e inventividade nacional. Sinônimo de robustez e simplicidade, o veículo atende colecionadores, aventureiros e entusiastas do automóvel. Apesar das limitações em desempenho e conforto, suas diversas versões serviram perfeitamente ao contexto brasileiro das décadas passadas. O Gurgel Xavante segue vivo nos corações dos apaixonados por carros nacionais, mostrando que, mesmo com poucos recursos, é possível criar um automóvel durável, versátil e histórico.