Gurgel Tocantins é um dos veículos mais emblemáticos da indústria automobilística nacional e representa um marco da criatividade e resiliência do setor automotivo brasileiro. Lançado em 1988 pela Gurgel Motores, o Tocantins surgiu em uma época em que o mercado brasileiro carecia de opções acessíveis e resistentes para terrenos acidentados, principalmente para usos rurais, militares e de lazer. Este utilitário conquistou uma legião de fãs graças à sua simplicidade mecânica, robustez e ao fato de ser 100% nacional, em um período em que era raro ver carros genuinamente brasileiros.
A história do Gurgel Tocantins começa com a genialidade do engenheiro João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, que buscava produzir veículos adaptados às condições brasileiras. Em um mercado dominado por multinacionais e repleto de restrições às importações, Gurgel investiu pesado em inovação nacional, trazendo soluções práticas e econômicas até mesmo para componentes como a carroceria de plástico reforçado com fibra de vidro. Destaca-se que Tocantins significa “rincão”, “canto de terra” em tupi-guarani, simbolizando a brasilidade do projeto.
No cenário de mercado, o Gurgel Tocantins ganhou espaço entre consumidores que precisavam de robustez sem abrir mão da facilidade de manutenção. Sua pseudo-tracão 4×2 com sistema Selectraction de bloqueio facilitava aventuras fora do asfalto com relativo baixo custo, tornando-o ideal para trilhas, pequenas fazendas e até mesmo uso militar. Ao longo dos anos, o modelo ganhou diferentes versões, sempre prezando pela durabilidade e simplicidade mecânica, atraindo tanto entusiastas quanto colecionadores.
Entre seus atrativos mais destacados, está a construção modular da carroceria e o amplo uso de peças facilmente encontradas no mercado nacional — principalmente de Volkswagen Fusca e Kombi. Com isso, o Gurgel Tocantins permanece até hoje como uma lenda entre veículos off-road brasileiros, sendo visto como símbolo de originalidade e resistência em terras tupiniquins.
Ficha Técnica e Versões
O Gurgel Tocantins foi produzido entre 1988 e 1994, com múltiplas versões e aplicações diferentes. Abaixo, confira a ficha técnica detalhada do modelo e descrição de todas as versões disponíveis ao longo dos anos.
Tabela Técnica Detalhada
Modelo | Ano | Motor | Potência | Torque | Câmbio | Tração | Peso | Consumo (km/l) |
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Tocantins TR | 1988-1990| VW Boxer 1.6 (Fusca) | 54 cv | 11 kgfm | 4 marchas man. | Dianteira 4×2 (Selectraction) | ~820 kg | 8-10 (urbano); 12-13 (rodovia) | |
Tocantins TL | 1990-1993| VW Boxer 1.6 (Kombi) | 57 cv | 12 kgfm | 4 marchas man. | Dianteira 4×2 (Selectraction) | ~850 kg | 8-10 (urbano); 12-13 (rodovia) | |
Tocantins X-12 | 1992-1994| VW AP 1.8 (opcional) | 92 cv | 15,5 kgfm | 5 marchas man. | Dianteira 4×2 (Selectraction) | ~900 kg | 8-9 (urbano); 11-12 (rodovia) |
Atenção: Os valores podem sofrer pequenas variações conforme versão, ano e revisão.
Explicação das Versões do Gurgel Tocantins
Tocantins TR: Lançada no início, é a versão básica e mais comum. Usava motor 1.6 refrigerado a ar da Volkswagen (Fusca), potência na faixa dos 54 cv e torque de 11 kgfm, associado a um câmbio manual de 4 marchas. O grande diferencial era o sistema Selectraction, desenvolvido pela Gurgel, que permitia bloquear uma das rodas dianteiras, simulando efeito semelhante ao de diferencial blocante em situações de lama ou areia.
Tocantins TL: Lançada na década de 1990, trazia pequenas melhorias em equipamento e acabamento, passando a adotar também o motor da Kombi, mais robusto e com leve incremento de potência (57 cv) e torque (12 kgfm). Mantinha o mesmo conjunto de câmbio manual de quatro marchas e Selectraction.
Tocantins X-12: Versão mais rara, lançada entre 1992 e 1994, era voltada para clientes que buscavam mais desempenho. Alguns exemplares receberam o motor VW AP 1.8, mais moderno e potente, entregando até 92 cv e 15,5 kgfm de torque, sempre acoplado a um câmbio manual de cinco marchas. Apesar do maior peso, entregava desempenho mais compatível com as expectativas para rodagem diária em rodovias.
Carroceria: Todas as versões ofereciam carroceria em plástico reforçado com fibra de vidro, disponível em duas portas, algumas versões com capota rígida e outras conversíveis. Um dos pontos fortes era a modularidade: algumas versões podiam ser customizadas facilmente por seus donos.
Desempenho e Consumo
O desempenho do Gurgel Tocantins nunca foi seu ponto forte, pois seu foco era a resistência, capacidade fora de estrada e baixo custo de manutenção. Mesmo assim, era suficiente para uso rural e recreativo. Com o motor VW 1.6, acelerava de 0 a 100 km/h em cerca de 18 a 21 segundos, com velocidade máxima próxima dos 110 km/h. Já a versão X-12, dotada do motor AP 1.8, conseguia ir além dos 130 km/h, com aceleração um pouco mais ágil.
O consumo oficial variava entre 8 a 10 km/l na cidade e até 13 km/l na rodovia, valores normais para a categoria de utilitários leves dessa época e considerando o uso de motores de concepção já então antiquada.
Vantagens
- Robustez e baixa manutenção: Fácil de encontrar peças (em especial partes mecânicas), grande parte oriunda do VW Fusca/Kombi.
- Carroceria resistente: Fibra de vidro não enferruja e pode ser reparada facilmente.
- Custo acessível: Tanto no mercado de usados quanto em manutenção.
- Exclusividade e carisma: Ícone nacional, torna-se peça de coleção.
- Facilidade de customização: Usuários adaptam conforme as necessidades (trabalho, lazer, uso militar).
Desvantagens
- Desempenho modesto: Motores refrigerados a ar têm baixa potência e torque.
- Conforto limitado: Simplicidade no acabamento; suspensão rústica prejudica o conforto em estradas de asfalto.
- Segurança: Ausência de itens de segurança modernos, como ABS, airbags ou mesmo cintos de três pontos.
- Isolamento térmico e acústico: Fibra de vidro abafa pouco o calor e o ruído externo.
- Consumo relativamente elevado para o porte: Motores antigos não são eficientes comparados a utilitários atuais.
Outras Informações Relevantes
O Gurgel Tocantins é celebrado em diversos encontros de carros antigos e clubes de fora de estrada pelo Brasil. Sua produção se encerrou em 1994 com a crise da Gurgel, impactada por políticas econômicas da época e abertura do mercado de importados. Hoje, o modelo é procurado principalmente por colecionadores, sendo valorizado por sua originalidade e qualidade construtiva.
Muitos proprietários restauram o Gurgel Tocantins tanto para trilhas leves quanto para exposição. O preço de mercado depende do estado de conservação e originalidade das peças. A manutenção é facilitada pelo uso intensivo de componentes da linha Volkswagen arrefecida a ar, tornando-o um dos utilitários clássicos mais fáceis de manter no Brasil.
Além do uso original, há modelos adaptados para ambulância, patrulha policial e serviços urbanos; reforçando a versatilidade, parte do DNA do Gurgel Tocantins.
Glossário Automotivo
- Carroceria: Estrutura externa do veículo, pode ser de metal, plástico ou fibra de vidro.
- Cavalos-vapor (cv): Unidade de potência de motores.
- Torque: Força de rotação do motor, medido em kgfm ou Newton-metro
- Câmbio manual: Sistema de transmissão onde as marchas são trocadas manualmente.
- Selectraction: Sistema desenvolvido pela Gurgel que permite bloquear o diferencial, simulando efeito de tração dupla.
- Suspensão: Conjunto que conecta o veículo às rodas e absorve impactos das irregularidades do solo.
Conclusão
O Gurgel Tocantins é um ícone da inventividade automotiva nacional, símbolo de resistência e praticidade, com legado eterno entre entusiastas de carros fora de estrada. Sua concepção simples e resistente, aliada ao baixo custo de manutenção, garantem seu destaque entre clássicos brasileiros. Apesar das limitações em desempenho e conforto, o Gurgel Tocantins permanece como excelente opção para quem valoriza originalidade e robustez. Ter um Gurgel Tocantins é celebrar nossa criatividade industrial, ao lado de um dos veículos mais charmosos e lendários do país.