Gurgel Motomachine: O Carro Urbano Brasileiro que Marcou Época

Gurgel Motomachine

O Gurgel Motomachine é um dos veículos mais curiosos e emblemáticos da indústria automotiva brasileira. Lançado no início dos anos 1990, esse microcarro representou a ousadia e criatividade da Gurgel Motores, empresa nacional fundada por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel. Apesar de ter sido um modelo polêmico, especialmente pelo seu design inovador e soluções mecânicas incomuns, o Motomachine conquistou admiradores por propor uma solução de mobilidade urbana acessível, compacta e de baixo consumo.

A história do Gurgel Motomachine está diretamente ligada ao cenário econômico e urbanístico do Brasil no final dos anos 1980. Na época, havia um crescente interesse por veículos pequenos e econômicos, impulsionado pela alta dos combustíveis e pela necessidade de desafogar o trânsito nas grandes cidades. Inspirado em tendências europeias e orientais de minicars, o Motomachine foi projetado para ocupar pouco espaço, ser prático e fácil de manter.

No mercado, o Gurgel Motomachine ofereceu uma alternativa sem concorrentes diretos nacionais, focando em um segmento que ainda era pouco explorado. O modelo foi bem recebido por estudantes, idosos e profissionais que procuravam um carro para pequenos trajetos urbanos ou para ser o “segundo carro” da família. Seu baixo custo de manutenção e preço acessível eram grandes atrativos, apesar das limitações de espaço e desempenho.

Entre os principais atrativos do Gurgel Motomachine estão a sua carroceria leve e resistente em fibra de vidro, dimensões ultra-compactas e facilidade de manobra. Além disso, o veículo oferecia economia de combustível invejável, auxiliada pelo motor de baixa cilindrada. O modelo também simbolizava o espírito inventivo brasileiro diante de adversidades econômicas, tornando-se um clássico cult entre entusiastas de carros antigos e microcarros.

Ficha Técnica e Versões

O Gurgel Motomachine foi fabricado entre 1992 e 1994, com poucas variações durante sua curta vida. Abaixo, confira a tabela técnica detalhada, contemplando todas as versões produzidas, suas características mecânicas e especificações:

Modelo Ano Motor Potência (cv) Torque (Nm) Câmbio Consumo (km/l) Peso (kg) Dimensões (C x L x A, mm) Lugares
Motomachine 800 1992-1993 VW Boxer 800 cm³ (Alcool/Gasolina) 32 cv @ 4.600 rpm 6,1 mkgf (60 Nm) @ 2.800 rpm Manual, 4 marchas 14 (urbano), 18 (rodoviário) 460 2.540 x 1.370 x 1.370 2
Motomachine 800L 1993-1994 VW Boxer 800 cm³ (Alcool) 34 cv @ 4.800 rpm 6,4 mkgf (63 Nm) @ 2.900 rpm Manual, 4 marchas 15 (urbano), 20 (rodoviário) 470 2.540 x 1.370 x 1.370 2

Detalhes das versões:

Motomachine 800: Modelo base, equipado com motor Volkswagen derivado do Fusca, porém reduzido para 800 cm³, entregando até 32 cv. Era voltado para simplicidade e baixo custo operacional.

Motomachine 800L: Versão “Luxo”, introduzida com pequenas melhorias de acabamento, incluindo painel mais completo, bancos revestidos e incrementos no isolamento acústico.

Ambas as versões traziam freios a tambor nas quatro rodas e direção manual, sem assistência elétrica. O painel de instrumentos era simplificado, mas suficiente para a proposta minimalista do veículo.

Desempenho e Consumo

O Gurgel Motomachine não foi projetado para impressionar em desempenho, e sim para atender à mobilidade urbana com eficiência máxima e baixo custo. A aceleração não era o ponto forte, levando cerca de 29 segundos para alcançar 0 a 100 km/h, com velocidade máxima de aproximadamente 110 km/h. No entanto, a proposta era perfeitamente aceitável para rodar em cidades e vias movimentadas.

O consumo de combustível é um dos principais atrativos do Gurgel Motomachine. O modelo facilmente alcançava médias de 14 a 15 km/l em percursos urbanos, podendo bater 18 a 20 km/l em estradas, devido ao baixo peso, motor de pequena cilindrada e câmbio curto. A manutenção simples e as peças do popular “Fusquinha” também pesavam a favor da economia.

Manobrar o Motomachine em centros urbanos ou vagas apertadas era extremamente fácil, graças ao seu raio de giro compacto e à leveza do conjunto. A suspensão dianteira independente e a traseira de eixo rígido garantiam estabilidade adequada para seu porte, mesmo em vias irregulares.

Vantagens e Desvantagens

Como todo carro inovador, o Gurgel Motomachine apresentava uma série de vantagens:

  • Economia: Bravo no consumo de combustível e custos reduzidos de manutenção.
  • Tamanho compacto: Perfeito para trânsito urbano, facilita estacionar até nos espaços mais restritos.
  • Durabilidade: Carroceria em fibra de vidro resistente à corrosão, ideal para grandes cidades.
  • Exclusividade: Carro raro, com estilo retrô alternativo e valorização entre colecionadores.

Por outro lado, suas principais desvantagens eram:

  • Desempenho limitado: Pouca potência, sofrendo em subidas e com ar-condicionado (quando disponível como acessório).
  • Espaço restrito: Apenas dois lugares e pouco espaço para bagagem.
  • Acabamento simples: Materiais internos econômicos e poucos equipamentos de conforto.
  • Segurança: Ausência de itens modernos como airbags ou ABS (algo comum à sua época).

Outras Curiosidades e Informações Relevantes

O projeto do Gurgel Motomachine foi criado pensando numa solução ecológica, compacta e prática para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro. Sua aparência exótica, lembrando brinquedos ou microcarros europeus como o Smart, cativou quem buscava exclusividade.

A produção foi bastante limitada: estima-se que menos de 2.000 unidades tenham sido fabricadas. Isso se deve, em parte, à crise financeira enfrentada pela Gurgel nos anos 1990, que culminou em seu encerramento em 1994. O Motomachine, assim, tornou-se o último modelo lançado pela montadora.

Algumas unidades do Motomachine ainda circulam em encontros de carros antigos, e o veículo é considerado um “neo-clássico” brasileiro, símbolo de inovação nacional e criatividade automotiva.

Conclusão

O Gurgel Motomachine é uma peça marcante da história automotiva nacional. Embora com limitações, ele se destacou como pioneiro no segmento de microcarros urbanos, oferecendo mobilidade acessível, economia e carisma. Com produção limitada, tornou-se um raro objeto de desejo para colecionadores e entusiastas, evidenciando a ousadia e genialidade da engenharia brasileira frente aos desafios de sua época.

Glossário Automotivo

  • Microcarro: Veículo compacto para uso predominantemente urbano, com até dois lugares.
  • CV: Cavalo-vapor, unidade de medida de potência usada no Brasil (veja mais).
  • Nm: Newton-metro, unidade de medida de torque (saiba mais).
  • Fibra de vidro: Material leve e resistente, utilizado na construção de carrocerias.
  • Torque: Força de rotação do motor, essencial para aceleração e força em subidas.
  • Boxer: Tipo de motor com cilindros opostos horizontalmente.
  • Câmbio manual: Sistema de transmissão de marchas trocadas manualmente pelo motorista.
  • Isolamento acústico: Conjunto de materiais e soluções que reduzem o ruído interno no veículo.

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