Gurgel Itaipu E150: O carro elétrico brasileiro pioneiro

Gurgel Itaipu E150

O Gurgel Itaipu E150 representa um capítulo especial na história do setor automotivo nacional. Lançado em 1974, em plena crise do petróleo, esse modelo inovador foi o primeiro carro elétrico desenvolvido e fabricado em série no Brasil. Com um projeto ambicioso, o Gurgel Itaipu E150 buscou antecipar tendências e responder à demanda por eficiência energética e alternativas às fontes fósseis, tornando-se símbolo de criatividade e ousadia tecnológica.

A iniciativa da Gurgel, empresa fundada por João Augusto Conrado do Amaral Gurgel, surgiu diante do contexto desafiador do seu tempo. O mercado automobilístico brasileiro era dominado por veículos movidos a combustíveis tradicionais, e a preocupação com a escassez de petróleo começava a pautar discussões sobre mobilidade sustentável. Nesse cenário, o Gurgel Itaipu E150 prometia economia, manutenção facilitada e, acima de tudo, sustentabilidade, aspectos muito valorizados atualmente, mas que já guiavam a empresa quatro décadas atrás.

De olho nesse mercado em formação, a Gurgel investiu em pesquisas e testes enérgicos com baterias e motores elétricos, marcando presença em feiras automotivas e chamando atenção da imprensa internacional especializada. O Gurgel Itaipu E150 apresentava-se como resposta nacional a carros como o Sebring-Vanguard CitiCar, dos Estados Unidos, mostrando que seria possível inovar e competir no segmento de veículos elétricos – mesmo com desafios financeiros e tecnológicos, como a limitação das baterias da época.

Entre os atrativos que o Gurgel Itaipu E150 oferecia estavam o baixíssimo custo de recarga, a quase inexistente emissão de poluentes e o design compacto, ideal para centros urbanos. Apesar de sua produção limitada – com poucas unidades comercializadas – e do fato de nunca ter chegado ao grande público, o modelo deixou um legado importante. O Gurgel Itaipu E150 continua sendo referência para estudiosos e entusiastas que pesquisam veículos elétricos no Brasil.

Ficha técnica e versões

O Gurgel Itaipu E150 foi desenvolvido em duas principais versões: o E150 (o hatchback compacto para duas pessoas) e o E400 (destinado ao transporte de carga). Focando no E150, é importante ressaltar que se tratava de um projeto experimental, e por isso houve variações entre protótipos e modelos expostos em eventos.

A seguir, uma tabela detalhada para a versão E150, ano 1974-1975, que foi a mais conhecida:

Modelo Ano Motor Elétrico Potência Torque Câmbio Autonomia Consumo (Equivalente) Velocidade Máxima Tempo de Recarga Peso Lugares
Gurgel Itaipu E150 1974-75 Motor DC 8 HP 6 kW (8 hp) 6 kgfm (59 Nm)[¹](https://www.convertunits.com/from/kgf.m/to/Nm) 1 marcha Até 60 km ~11 kWh/100 km ~60 km/h 10 horas (baterias de chumbo) 700 kg 2

Notas:

  • Motor: Corrente contínua, 8 HP (horsepower – [CV])
  • Torque: Cerca de 6 kgfm (aproximadamente 59 Nm)
  • Bateria: 10 – 12 baterias de chumbo-ácido, 72V no total, 44 Ah.
  • Carga: Tomada comum residencial.

Para o Gurgel Itaipu E400, lançado depois (1979), a proposta era utilitária: um furgão equipado com configuração semelhante, mas espaço para carga de até 400 kg, mantendo motorização e conceitos similares.

Além disso, existiram alguns protótipos baseados nos Itaipu (E800, um micro-ônibus, e outros testes), mas nenhum foi efetivamente produzido em escala.

Desempenho e consumo

Embora inovador, Gurgel Itaipu E150 tinha performance limitada pelos padrões atuais e mesmo à época. A autonomia real era um desafio constante: com carga completa, a expectativa era de até 60 quilômetros em condições ideais, mas em ambientes urbanos esse número podia ser menor, variando com o uso dos faróis, inclinação de vias e peso dos ocupantes ou carga.

O tempo de recarga era outra limitação: entre 8 e 10 horas em uma tomada doméstica, tempo suficiente para a rotina diária, mas pouco prático para viagens mais longas ou uso intensivo. A velocidade máxima declarada era de 60 km/h, suficiente para deslocamentos urbanos – o foco do projeto.

No quesito consumo, o carro se mostrava muito econômico: o custo de reabastecimento era irrisório comparado à gasolina. Em equivalência energética, consumia cerca de 11 kWh a cada 100 quilômetros. Em um contexto de elevação frequente do preço dos combustíveis, o Gurgel Itaipu E150 prometia ser uma alternativa viável para frotas institucionais, além de chamar a atenção de consumidores conscientes da época.

Vantagens

  • Baixo custo de rodagem: Energia elétrica sempre foi mais barata que combustíveis fósseis no Brasil.
  • Zero emissão de poluentes: Grande apelo ambiental, mesmo antes da pauta “verde” ser predominante.
  • Simplicidade mecânica: Manutenção reduzida, poucas peças móveis no conjunto motriz.
  • Design compacto: Facilidade de estacionamento e agilidade no trânsito urbano.

Desvantagens

  • Autonomia restrita: 60 km limitava o consumo a trajetos curtos.
  • Tempo elevado de recarga: Inviável para longos percursos ou uso frequente.
  • Baixa potência e velocidade: Não atendia necessidades de viagens ou trânsito rápido.
  • Tecnologia de bateria pouco eficiente: Peso elevado e vida útil curta.
  • Pouca infraestrutura: Na época, inexistência de estações de recarga públicas.

Outras informações relevantes

Os números de produção do Gurgel Itaipu E150 foram bastante baixos. Estima-se que apenas cerca de 20 a 40 unidades, incluindo protótipos e modelos de demonstração, foram realmente montadas. Apesar disso, o Itaipu E150 apareceu em revistas internacionais e foi apresentado no 5º Salão do Automóvel de São Paulo, chamando atenção pela originalidade.

O veículo, por sua inovação, é frequentemente citado em retrospectivas sobre a eletromobilidade nacional, especialmente nos contextos de políticas públicas e inovação tecnológica. Apesar das dificuldades enfrentadas (tecnologia de baterias, produção local, resistência de mercado) o Gurgel Itaipu E150 é reconhecido por sua coragem e pioneirismo.

Hoje, unidades do Itaipu E150 estão preservadas em museus e coleções particulares, servindo como fonte de inspiração para startups e pesquisas de universidades brasileiras sobre mobilidade elétrica.

Conclusão

O Gurgel Itaipu E150 consolidou-se como símbolo de inovação e coragem industrial brasileira. Antecipando em décadas o debate sobre carros elétricos, o carro pavimentou o caminho para a eletromobilidade nacional, mesmo enfrentando limitações técnicas e de mercado. Sua história é celebrada como uma referência e prova do potencial criativo brasileiro – mostrando que, mesmo diante de poucos recursos, é possível construir soluções modernas e sustentáveis para desafios da mobilidade.

Glossário automotivo

  • Autonomia: Distância máxima que um veículo pode percorrer com uma carga/bateria/abastecimento completo.
  • Bateria de chumbo-ácido: Tipo de bateria comum em veículos antigos; pesada e com vida útil reduzida.
  • CV (Cavalo-vapor): Unidade de medida de potência dos motores.
  • DC (Corrente contínua): Tipo de motor elétrico que utiliza energia elétrica em corrente contínua para gerar movimento.
  • kWh (quilowatt-hora): Unidade de medida de energia; usada para consumo de veículos elétricos.
  • Nm (Newton-metro): Unidade de medida de torque dos motores.
  • Recarga: Tempo necessário para restabelecer 100% da energia das baterias de um carro elétrico.
  • Torque: Força de rotação que o motor consegue exercer.
  • Versão: Variante de um modelo, com diferenças em motorização, acabamento ou outros aspectos.

Se você busca entender a história do carro elétrico no Brasil ou pesquisar sobre mobilidade sustentável, o nome Gurgel Itaipu E150 é referência obrigatória.

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